Sabemos que as crianças precisam de proteção. Precisam ser, desde o início, bem acolhidas, nutridas, acalentadas e supridas em suas necessidades tanto fisiológicas quanto afetivas. Precisam do carinho materno, de uma voz que lhes traduza bem o mundo em que passam a habitar. Dessa forma, uma criança ganha, pouco a pouco, a chance de ela mesma se apoderar dos objetos, das coisas, de aprender a se manifestar e a encontrar lugares. Também a reconhecer as bordas, os limites e o que é bom ou ruim. É o adulto, sem dúvida, quem dá acesso para a criança aos códigos de entendimento e de significação das coisas para que ela, a seguir, gradativamente, seja capaz de se apoderar da língua. A tarefa inicial é a de maternagem: ser suficientemente presente para transmitir signos bons, para que, paulatinamente, a criança consiga se situar no mundo de forma segura. A confiança se funda desde muito cedo na qualidade do vínculo e a sensação de autoestima e amor próprio é sucedânea aos bons tratos e cuidados da maternagem. A boa maternagem não vem só da mãe mas de todos os que cercam a criança e, sobretudo, daqueles que por ela se responsabilizam. Ambientes temperados – onde há conversa, respeito e bons humores – são importantes como referência para que a criança se sinta bem, fique à vontade para se expressar e conhecer cada vez mais o mundo em que vive. Educar uma criança significa dar a ela acesso à dignidade tanto material (o básico do acolhimento) quanto discursiva: aprender a se cuidar e a falar. É disso que se trata. Aos poucos, a criança será capaz de aprender a se situar, de maneira que saberá bem o que pode e o que não pode, o que é perigoso e o que não é, o que é respeitoso e o que não é e assim por diante. Sobretudo, será capaz de aprender a reconhecer seus desejos e aprender a avaliar a pertinência deles. Vejam, estamos diante de um processo de nascimento de uma pessoa que não pode ser tomado como acontecimento único mas uma sequência interminável de processos que vão se tornando complexos à medida em que o tempo avança.
Assumir a responsabilidade de gerar e sustentar o desenvolvimento de uma criança é uma tarefa que os pais e responsáveis deveriam buscar reafirmar ao longo dos anos e não apenas como uma vontade qualquer. Pois, à despeito das dificuldades afetivas e mesmo econômicas, à despeito das neuroses dos adultos e de suas limitações, à despeito de estarem os pais casados ou não, o compromisso de dar as mãos às crianças e permitir que cresçam em boas condições é sobretudo um compromisso do qual os adultos não deveriam se eximir. Maternagem, no sentido amplo, no sentido de dar condições a uma criança de bem se inserir no mundo, é algo que precisa contar com um ingrediente indispensável: a capacidade de amar com ternura.
Carlos Mario Alvarez
Conheça o conteúdo do nosso curso Simbioses
Quanta delicadeza e profundidade em suas palavras, Carlos. Me senti em um colo. Obrigada!