Quando a gente acredita muito em uma verdade, a gente não pode fazer muita coisa. Mas quando a gente põe a coisa toda em jogo, quando a gente põe essa verdade em movimento, a gente consegue criar novas perspectivas. O que faz Freud chamar o trabalho da análise de trabalho da superação das resistências é porque, quando uma pessoa vai fazer análise, essa pessoa ela está sofrida usando palavras contra ela, falando uma língua mal falada, ela está locatária do sentido do outro, daí ser preciso ajudar essa pessoa a arrumar as dimensões de produções de sentido dela; e muitas vezes é fabricar palavras, cortar palavras, trazer novas palavras.
O que pode, por exemplo, significar intimamente para uma pessoa que, se ela se separar, os outros certamente dirão que ela é um fracasso? Ou a ideia de que só se pode gostar de “uma” pessoa. Ou a ideia de que fez medicina só para agradar ao pai... “Ah!, mas está tudo bem"... Não! Não está bem porque, quando as pessoas fazem coisas que não são legítimas, na sua intuição ou vontade, elas o sabem, quando fazem coisas por só amor ao outro, as decisões acabam por cobrar muito caro em algum sentido, porém sempre cobrarão em algum momento, mais cedo ou mais tarde. O problema é que, ao mesmo tempo, essa figuração não deixa a gente ir muito longe nessa "extrapolação", porque a gente sempre faz as coisas também por amor ao outro, e isso, ora pois, também é bom.
A pergunta é: como é que está o meu balanço? Estou gingando? Estou balançando? Estou (me) equilibrando? Ou estou pagando caro demais para usufruir? Eu quero ir por esse caminho ou por outro? “Ah, mas vai dar um trabalho...”. Gente!, mas é aí que está a resistência. Quando o trem está num trilho (sei lá... um trem bala a 400km/hora), está tudo bem azeitado, o trilho conduz por aquele caminho, o caminho é todo sabido. É muito bom porque você vai, por exemplo, de Paris à Amsterdã e chega certinho, na hora certinha. E por que chega? Porque tem o trilho exatamente como resistência controlada, e muito bem azeitada ali e para aquela função específica.
E tudo na vida não seria assim? Não. O analista desconstrói o trilho do trem e faz outros trilhos com seu paciente porque, vejam bem, ir somente de um ponto a outro, dessa forma que o trem faz, não está fazendo bem, não pode fazer bem.
Quer dizer, ou você encontra um bem respirar para o teu viver ou fica num lugar desconfortável (conforto é relativo), só querendo mais (só querendo...). Indo exatamente de um lado a outro, de outro ao lado, como um maquinista (um passageiro sem sentido). Você vai ficar ressentido, vai ficar amargurado, ulcerado, idiota, infeliz. Não é que a gente tenha como estar sempre bem, mas a gente tem que e como encontrar formas de vibrar ou, pelo menos de pegar no volante e testar, nem que seja por alguns instantes escolhidos, o próprio balanço, os próprios trilhos e outras formas de bem – ou mais ou menos bem -
estar.
Carlos Mario Alvarez
Conheça o conteúdo do curso Ressentimento: o afeto aprisionado
Ufa! Um analista com quem tenho interlocussao e percebo a coragem e crítica, e sabendo dos meandros do sistema universitário, especialmente ufrj, diz o que estou sentindo, minha Intuição me diz e fatos concretos, me sabotando, me evam a tomar consciência.
De que estão querendo me pressionar para escolher o pretendente mais afinado com a máquina ideológica. E que pra mim, mulher-femea, não está na hora de escolher "um". E fica a questão de que ficam me intimidando, a máquina do mundo, com ameaças e sabotagens reais, especialmente quando me aproximo do que também não esta(va) interessado na máquina do mundo. Se afastou ao ver meu sofrimento e só apareceu e agiu por ver esse enredamento.