PARTE I - As Estruturas Psíquicas: o mapa invisível da mente humana
- Psicanalise Descolada

- 27 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de out.
Por Carlos Mario Alvarez
Quando Freud inaugurou a psicanálise, ele não estava apenas propondo uma nova teoria sobre o inconsciente. Estava abrindo uma maneira inédita de compreender o humano — suas dores, seus sintomas, seus modos de amar e de sofrer. Entre as tantas descobertas que essa escuta produziu, uma se mantém como uma das mais fundamentais: a ideia de que existem formas estruturais de organização do psiquismo, que determinam como cada sujeito lida com o desejo, o prazer, o limite e a realidade.
Essas formas, conhecidas como estruturas psíquicas, foram inicialmente descritas por Freud e mais tarde aprofundadas por Lacan. São três: neurose, psicose e perversão. Cada uma representa um modo singular de defesa diante do desamparo primordial e da impossibilidade de satisfazer completamente o desejo.

Freud: a gênese das estruturas
Freud herdou da psiquiatria do século XIX o interesse em distinguir diferentes formas de funcionamento mental, mas deu a essa distinção uma dimensão simbólica. Para ele, a neurose se define pelo recalque — um mecanismo que permite manter o contato com a realidade, ainda que a custo de distorcê-la. O neurótico, ao recalcar seus impulsos, cria uma realidade metaforizada, uma espécie de palco simbólico onde o conflito entre o desejo e a lei pode se expressar: é o sintoma.
A psicose, por outro lado, envolve uma cisão radical com o mundo externo. Aqui, a defesa não é o recalque, mas a rejeição — uma recusa estrutural de algo essencial, que impede a plena inscrição do sujeito no campo simbólico. Quando isso acontece, o sujeito tenta reconstruir o mundo por meio de delírios e alucinações, como se precisasse costurar novamente o tecido da realidade.
Já a perversão, no modelo freudiano, tem no fetichismo seu paradigma. O sujeito elege um objeto específico como foco do desejo e busca nele a potência de dominar o Outro. Freud mostrava que as chamadas “perversões” não eram simples desvios morais, mas expressões da plasticidade e da complexidade da sexualidade humana — uma sexualidade que não se dobra facilmente às normas sociais.
Lacan: o sujeito e a escolha de estrutura
Décadas mais tarde, Jacques Lacan radicaliza a leitura freudiana. Para ele, as estruturas psíquicas não são apenas classificações clínicas, mas formas de inscrição do sujeito no campo da linguagem. A estrutura é o que organiza a relação do sujeito com o desejo, com o Outro e com o real.
Lacan propõe que cada sujeito, inconscientemente, “escolhe” sua estrutura — não por decisão consciente, mas a partir do modo como o simbólico, o imaginário e o real se entrelaçam em sua constituição. Por isso, a clínica psicanalítica começa pela escuta da estrutura: é ela que orienta o manejo da transferência, isto é, a forma como o analista se posiciona diante do analisando.
Estrutura não é sentença
É importante lembrar: a estrutura não é um rótulo, nem um destino fixo.Ela serve como bússola, não como prisão.O analista precisa das estruturas para se orientar — mas jamais para reduzir uma pessoa a um diagnóstico. A escuta analítica é, antes de tudo, um campo de abertura, um espaço em que o sujeito pode reconstruir a malha de sua existência e encontrar novas formas de estar no mundo.
Como dizia Lacan, “não se deve recuar diante da psicose”. Isso vale para toda a clínica contemporânea: a psicanálise é, acima de tudo, uma ética do acolhimento. Ela não busca normalizar, mas compreender. E compreender, aqui, é permitir que o sujeito reencontre o sentido do que vive — e possa se reconciliar com o seu próprio modo de desejar.
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