Quando estamos fazendo uma análise, ela tem por objetivo deslocar a pessoa de um certo lugar, porque esse lugar em que a pessoa se encontra é um lugar de angústia, de sofrimento.
Então, o que a psicanálise faz? Ela permite desfazer determinadas crenças e idealizações. Permite também reformular determinadas posturas e reavaliar determinadas formas de se relacionar. E como ela faz isso? Prestem atenção: ela faz isso tirando o peso, a cola de palavras, tirando a ideia inquestionável de uma palavra, deslocando-a de um campo semântico, de ideias, de significações que o paciente estabeleceu como absolutas.
A psicanálise é uma prática da suspeição por excelência. O analista tem sempre uma desconfiança, no sentido de que suspeita de que aquilo que o analisando diz tem outras medidas, outros valores, outras significações para as quais ele não está aberto e, portanto, destas e destes não está consciente. O trabalho do psicanalista passa por uma reinvenção de palavras, pelo reestabelecimento de um código linguístico.
Uma sessão pode ter valor de ato falho, pode ter valor de um sonho; a fala de uma pessoa pode ter valor de ato falho. Então, quando a gente começa a trocar palavras de lugar, brincar com as palavras, a gente consegue abalar as estruturas onde os sintomas estão ancorados. Trata-se sempre de linguagem. É como Lacan dizia, que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Isso significa dizer que a gente só tem acesso ao real pela interpretação linguística, pelos códigos, pelos símbolos.
O Bion, que é da escola inglesa e é muito pouco conhecido e estudado, ele tem uma frase que todo mundo sabe qual é: o analista tem que ir para uma sessão com seu paciente como se fosse a primeira. De fato, isso procede.
O paciente me pergunta: onde foi que nós paramos. Eu respondo pra ele: nós paramos? O inconsciente não para. O que para, muitas vezes, é alguém diante de um impasse, de um vício, de uma postura. E a psicanálise pode tentar levar alguém a desafiar os seus medos, as suas ameaças, as suas dúvidas. E o desafio maior será sempre o de tirar o peso semântico, as significações preestabelecidas, as acepções inquestionáveis. O desafio maior será sempre o da linguagem. O analista e analisando têm que estar aptos a reescrever diariamente seu próprio dicionário íntimo. Eles deverão ser sempre o filólogo dinâmico de seus próprios atos, invariavelmente falhos.
Carlos Mario Alvarez
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