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O Preço do Desejo: Psicanálise, Corpo e Identidade em A Substância

Por que desejar ser outra versão de si mesmo se tornou um imperativo contemporâneo?


O filme A Substância não é apenas uma obra de ficção científica ou crítica social. Ele toca em zonas erógenas da cultura e do inconsciente: o corpo, o espelho, o feminino, o recalque. E como toda boa obra, ela nos devolve aquilo que tentamos ocultar — a angústia diante da própria imagem e a pulsão que insiste em transformar.


A SUBSTÂNCIA

Entre o espelho e o abismo


A proposta do filme é simples, quase sedutora: há uma substância que pode te tornar mais jovem, mais desejada, mais poderosa. Mas como alerta a voz do inconsciente: toda promessa tem um preço psíquico.

Ao assistir ao filme sob o olhar da psicanálise, é impossível não evocar o estádio do espelho, conceito formulado por Jacques Lacan. A personagem que consome a substância se vê duplicada, refletida, reconfigurada — como se houvesse uma versão ideal de si mesma que finalmente pudesse emergir. Mas esse “eu ideal” não é um encontro com a liberdade, e sim com a alienação. Aquilo que deveria libertar, aprisiona. O desejo de ser outra se torna cárcere, e a imagem, tirana.


O corpo como campo de batalha simbólico


A juventude vendida pela substância é, na verdade, uma tentativa de vencer o tempo. E com isso, vencer também a castração — aquele limite estrutural que nos impede de sermos tudo. Mas como diria Freud: o recalque retorna.

E retorna em forma de inveja, ódio, raiva e... tesão de vida. A dicotomia entre a mulher envelhecida e sua versão rejuvenescida revela mais do que um conflito estético — revela uma luta psíquica pelo reconhecimento, pelo lugar no olhar do outro, especialmente no olhar materno. Nesse ponto, o filme abre espaço para discutir as relações entre mãe e filha: espelhadas, competitivas, simbióticas, intensas.

A mãe, aqui, pode ser representada tanto pela sociedade patriarcal que dita os corpos, quanto pela figura real e psíquica que encarna o desejo de completude. A filha — a que deseja, que goza, que transgride — representa a

insurgência. E é aí que entra a psicanálise: para mostrar que o desejo, quando interditado, retorna com mais força e violência.


Inveja, rivalidade e o feminino como enigma


A análise psicanalítica do filme nos permite articular também os conceitos de inveja primária, rivalidade narcísica e ambivalência afetiva. A mulher que toma a substância rivaliza não só com outras mulheres, mas com ela mesma. Há um narcisismo ferido que quer reparar sua imagem, mas acaba por rasgá-la ainda mais.

Esse conflito ecoa um problema estrutural do feminino na cultura: ser o objeto do desejo e, ao mesmo tempo, sua ameaça. Em A Substância, a mulher se torna imagem pura — e portanto descartável, substituível, repetível. Mas o desejo, esse que pulsa do inconsciente, não se deixa reduzir à estética.

A violência que atravessa o filme não é gratuita: ela é sintoma. Sintoma de uma cultura que tenta calar a subjetividade por meio da performance da perfeição.


Cinemanálise ao vivo: um mergulho com Carlos Mario Alvarez


No dia 19 de julho, às 10h da manhã, o psicanalista Carlos Mario Alvarez irá conduzir uma análise psicanalítica ao vivo do filme A Substância. Será um encontro intenso, instigante e profundo, dedicado a quem deseja pensar o desejo, o corpo e as tramas psíquicas da contemporaneidade com afeto e rigor teórico.


Falaremos sobre:

● O espelho e o narcisismo feminino

● Relações entre mãe e filha

● Inveja, tesão, raiva e gozo

● O desejo de superação e suas armadilhas


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Porque no fim, a substância que mais nos transforma é o saber sobre nós mesmos. E isso, a psicanálise sabe como revelar.


Equipe Psicanálise Descolada

 
 
 

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