Será que é possível gostar de uma pessoa incondicionalmente? Você consegue gostar de uma pessoa independente do que ela faça?
Uma mãe que dedica a sua vida a um filho durante um bom tempo, e o filho maltrata a mãe, traz sofrimentos... Será que esse amor vai se manter incondicional? É possível que sim: vai ser um gozo de sofrimento da incondicionalidade do amor. Eu diria a vocês que nada é incondicional, nem a própria análise (nem a mãe). Uma coisa é insistir no trabalho, outra coisa é insistir no sintoma. E outra coisa é você desistir de trabalhar, de transformar.
A dimensão da angústia, ela se desloca, ela pode se transformar, pode ganhar outros contornos. Eu pego o metal angustia e transformo no metal luta. Luta eu transformo em conquista; conquista eu transformo em abertura; abertura eu transformo em circulação do prazer; circulação do prazer eu transformo em novos encontros; novos encontros eu transformo em novas alegrias; e alegrias novas eu transformo em riqueza. E novas riquezas podem ser material ou espiritual, não importa. Riqueza é abundância de algo que me torna mais forte.
Análise empodera. E ela me enriquece me subtraindo. E o que ela subtrai? As besteiras que eu falava; as coisas que o papai ensinou e que eram um lixo; os traumas que a mamãe me infringiu quando eu era pequeno e eu não tinha como me defender; o patriarcalismo chauvinista de um namorado, que eu tive que suportar; a falta de senso dos meus familiares, que têm prazer de fazer de mim chacota para sua diversão cínica.
Nada é incondicional, porque o que é incondicional é doente, é religioso da pior forma. O incondicional é uma ideia que armou pra cima de você, que se tornou maior do que você, que se armou por cima de você e agora te estupra todo dia, em nome da pátria, em nome da família, em nome da cisma, em nome de deus, em nome do clube, em nome do partido, em nome do siso, em nome do amor.
Carlos Mario Alvarez