Aquele que intensamente inveja os outros acredita que os outros também o invejam. É uma espécie de defesa. Ele se sente pequeno, ele sabe que qualquer um pode desmascará-lo. Mas essa inveja não pode ser admitida (daí a inversão): “como isso é legal!? Como eu gostaria de ter isso pra mim!?” A inveja é simplesmente o ódio. Vocês querem o que define essa dimensão de personalidade narcisística? É a capacidade de odiar, de exterminar o outro. Mas a própria pessoa que está nessa “modulação” não o percebe.
Às vezes se está lidando com alguém cujo narcisismo é abalado, casamentos narcísicos, nesse sentido, polo ativo e polo passivo, sadomasoquista. Há quem fique, porque extrai gozo disso pelas mais diversas significações. São valores de troca.
O que é o mercado? O que é o marketing? É tornar algo “valorável” aos olhos. Então, o objeto de desejo pode ser “fakeado”. Mas tudo é tudo muito questão de circunstância: vamos “fetichizar” essa prática, esse bar, esse lugar, esse objeto. Virou fetiche, virou objeto compulsivo de desejo. E, aí, fica. É muito importante a dimensão “inventada” do desejo. Porque, por mais que uma pessoa narcisista possa ser exclusivista, às vezes a outra entra na sintonia daquilo não só porque quer curá-la, obedecê-la, mas porque aquela pessoa está numa posição idealizada. Acreditou na idealização que o narcisista quis fazer dele próprio e ali ficou.
A personalidade narcísica não suporta ser preterida. Não pode haver concorrente, tudo tem que estar no controle de uma espécie de relação simbiótica. Algumas pessoas saem arrasadas dessas relações narcisistas porque elas foram ao extremo, elas foram extrapoladas no nível da exasperação. Elas chegaram no limite do limite ⸺ a dignidade delas foi roubada.
É sempre uma questão de desnivelamento do desejo. Alguns relacionamentos desse tipo duram por anos. Parece uma cola! Mas quem pode desfazer essa cola senão a própria pessoa? A dimensão da destrutividade, no que ela pode ter de debilitação, é a própria pulsão de morte nos seus efeitos mais materiais. A psicanálise entende que a pulsão de morte é desagregadora.
Quando nós estamos lidando com personalidades narcisistas, nós estamos lidando com questões imediatas de destruição, de não reconhecimento. Na verdade, é muito difícil para as pessoas aceitarem as outras nas suas diferenças. Mas isso também pode esconder um ato de vandalismo.
A psicanálise há de fazer com que o objeto de desejo seja retornado, obliterado, falhado, porque todas essas dimensões de relações inquestionáveis, absolutas e excludentes são mortíferas; nessas dimensões estão as personalidades narcísicas; e aí se encontra a inveja que odeia, porque a falta em si só se completa pela completa capacidade de odiar.
Carlos Mario Alvarez
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