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O sintoma, o desejo e a escuta: quando a dor fala mais do que o corpo

Atualizado: 28 de abr.

Há dores que os exames não detectam. Há sintomas que não pertencem à lógica do orgânico. Há histórias que, embora repetidas mil vezes, ainda carregam zonas de sombra. É nesse ponto — entre o que se sente e o que se consegue nomear — que a psicanálise ergue seu campo de atuação.


sintoma, desejo e a escuta

Freud não procurava curas rápidas, mas caminhos de compreensão. Diante da histeria — com seus desmaios, paralisias, angústias —, ele escutou o que a medicina silenciava. O que surgia como excesso do corpo era, na verdade, linguagem. Não havia lesão, mas havia sentido. Um sentido que não se apreende pela razão, mas pelo inconsciente — esse outro que habita em nós.


A clínica psicanalítica nasce assim: da escuta. Uma escuta atenta aos deslizamentos do significante, aos lapsos, aos atos falhos, aos sonhos que nos tomam como espectadores. Na análise, não se trata de interpretar rapidamente, mas de sustentar um espaço onde o sujeito possa, enfim, falar com menos censura. Sonhar acordado, associar livremente, tropeçar nas próprias palavras — e descobrir que nelas há mais verdade do que nos discursos ensaiados.

O inconsciente, como nos ensinou Lacan, é estruturado como uma linguagem. Não segue a lógica da gramática nem da cronologia, mas do desejo — e o desejo, por sua vez, não é o que se quer conscientemente. Desejo é aquilo que nos move sem que saibamos. É a falta que insiste. É o que se repete, ainda que doa.


Nesse jogo entre prazer e realidade, entre gozo e censura, entre fantasia e trauma, a psicanálise oferece um percurso. Um deslocamento. Um ensaio. Porque só na experiência é possível destravar aquilo que a vida fixou. O sintoma, nesse contexto, não é um inimigo a ser eliminado, mas uma formação de compromisso: ele guarda algo do sujeito que ainda não foi escutado, acolhido, simbolizado.


O trabalho do analista, portanto, não é ensinar, convencer ou direcionar. É sustentar a escuta com desejo e silêncio. É não ocupar o espaço do saber, mas acompanhar o paciente em sua travessia — até que ele possa inventar outras formas de ser, outras formas de estar no mundo, menos pautadas pelo automatismo da repetição.


É por isso que se diz que a análise não quer curar no sentido tradicional. Ela quer reconduzir o sujeito à graça de viver. Àquele estado em que o corpo ganha mobilidade, a palavra ganha verdade, e o sintoma, finalmente, encontra lugar — e pode, quem sabe, ceder.


Se essa visão de mundo ressoa em você — se sente que chegou a hora de escutar e ser escutado de um modo mais profundo —, talvez esse seja o momento de começar ou aprofundar seus estudos.


Nos dias 09, 16 e 23 de maio, no Leblon (RJ), conduzirei um curso presencial intitulado "Introdução à Clínica Psicanalítica – Teoria e Técnica", das 16h às 18h.


Serão três encontros dedicados à compreensão dos pilares da psicanálise freudiana e suas repercussões clínicas — com espaço para reflexão, escuta e atravessamento.


Se quiser caminhar comigo por esse percurso, será uma alegria te encontrar.

Carlos Mario Alvarez - Psicanalista


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