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FELIZ BANAL!

Atualizado: 9 de mai. de 2021

O que é seu feliz banal?


Não sei, você que vai dizer.


A brincadeira está proposta.


Esse artigo vai tratar do que é possível em relação ao Feliz Banal.


O que é algo banal? Banal é algo vulgar, corriqueiro, que acontece sempre, que supostamente não surpreende, portanto não escandaliza, não chama mais atenção, ficou “banal”, ficou trivial, vulgar...

Veja, nenhum adjetivo, seja ele banal, importante, raro, sensacional, fantástico, nem um aditivo é, por si só, uma categoria posta e absoluta. Sempre, meus caros, sempre, em qualquer circunstância em que vocês estejam, vocês têm que escutar a semântica ⸺ de onde a gente está produzindo o discurso, de onde se está falando, de onde se está, portanto, sentindo!


Quando a gente fala, ou quando a gente é ‘falado’, a gente está numa piscininha, vamos brincar assim, está num poço semântico, quero dizer, você está nadando com significantes em palavras, com letras que as formam. A sopa de letrinhas da babá, da titia, da vovó...

Sopa de letrinha é onde a gente “véve”.


“Véve”, assim, tentando dar conta das questões, e vai falando e vai pegando as letrinhas.

Então, o “banal” não é necessariamente (o) ruim. Não é porque é banal que é ruim. Não é porque é vulgar que é ruim. Não é porque é comum que é ruim.


Agora, tem coisas que são banalizadas, e obviamente não poderiam ser. Mas hoje eu quero falar sobre a dimensão do banal no que diz respeito àquilo que assiste a e atinge a vida cotidiana de uma pessoa, e que supostamente é pouco, e que supostamente não é suficiente, e que supostamente ela não percebe, mas que, de repente, ali pode estar uma coisa bacana para ela.


Ou seja, quando a gente começa a perceber que o trivial, que o vulgar, que o comum pode ser legal, pode ser interessante e pode fazer diferença!?... Porque aí se desobriga de muita coisa.


Se desobriga daquela faculdade de ser o tempo todo bom, o tempo todo up to date, o tempo todo fodão, o tempo todo vencedor, todo o tempo o tempo todo...

Que é o que os psicanalistas há algum tempo já dizem, que são essas dimensões de disjunção do superego. Superego diz: gozá-lo, gozá-lo, gozáááááááá-lo! Aí, você tem que ficar gozando feito um patinho no parque.


Gozar não é um tema que eu aprecio muito diretamente aqui, mas é um tema muito gozado, porque as pessoas que ouvem os psicanalistas falar não entendem muito bem o que é essa dimensão do GOZAR.


Talvez nem os psicanalistas entendam tão bem... Mas não vamos falar muito disso, que é para não chocar o narcisismo dos psicanalistas — figuras sempre muito preparadas, muito inteligentes, muito capazes. E nessas horas eu não me identifico muito com os psicanalistas. Rá, rá, rá...


Eu me identifico mais com o POETA! Porque o poeta, ele fica na tentativa de burlar a dimensão da letra produzindo novas letras. E, aí, meus queridos, vou dizer uma coisa para vocês, um segredinho: tenta, no banal do teu cotidiano, quando tua vida te diz “Ei! onde estas?”, tenta perceber que são letras, são as coisas e coisas que podem ser letradas, ditas e dimensionadas, o que faz (e fazem) grande diferença.


O que quero dizer com isso? Parece até que estou enveredando por uma linha motivacional, de autoajuda, e ESTOU SIM! Hoje é MOTIVAÇÃO! Quem falou que não posso?! Então, que seja motivação, que seja autoajuda. Mas vai ser aquela motivação disjuntiva. Porque, basicamente, o que quero dizer para vocês nesses dias que antecedem o banal é que o banal não precisa ser um dia, que o banal não precisa ser ‘o’ dia, a gente nada no banal, isso é ‘o’ banal...

A realidade em que a gente vive é o que manda, no sentido do que a gente sente, pensa e faz. Tanto que na psicanalise a gente diz que você PRECISA SABER FALAR AQUILO QUE VOCÊ QUER BEBÊ!


Oh! bebê! APRENDE a FALAR, miserável! APRENDE a PEDIR! Mas pede na hora certa. No lugar certo. E cuidado para não ter a suas ânsias desejantes estranguladas!

Bebê! Você precisa ir até a fonte e beber do néctar que te liberte. E vou te falar. Bebê: não tem necessariamente a ver com o outro ficar na tua cola, você não precisa estar namorando, casado, enchendo o saco de ninguém, para ser feliz; pode estar numa nice, namorando, amando. Mas se não está, criatura, tem outras coisas...


E veja bem, o que NÃO ESTÁ, NÃO ESTÁ! Mas algo pode estar ‘no lugar de’.

É esta a outra dimensão de que a psicanalise fala. Então, bebê, para de chorar, enxuga as lágrimas e VAI FAZER ALGUMA COISA! Para você beber melhor.


Então, tem coisas que a gente faz que são simples, portanto são banais. Então, pensa: eu não sei, eu não posso inventar por você, meu imaginário não deve ser o do meu paciente, embora eu conjugue com ele da sopa de letrinhas...


O meu paciente, seja lá quem ele for e onde ele estiver, a gente vai bater um pingue pongue, vai ter um teretetê, vai ter uma espécie de fala em que eu o escuto, porque a gente tem que achar a sequência do DNA PSIQUÍCO dele, que não que não preexiste a ele — nessa hora não sou freudiano; nessa hora não acho que tem um trauma lá atrás que você tem que resgatar e só assim serás feliz, bem feliz . Não é bem assim, embora tenha trauma sim. Mas eu acho que a gente tem que estar partindo de onde se está, e dali para frente! É para a gente pegar as letrinhas e fabricar realidade.


Bebê! Olha que coisa legal que é isso! Você poder fabricar sua realidade! E dentro desse critério você tem que confiar na sua potência de fala. Falar por e para você próprio.

Sabe aquela história do paciente que começa uma análise se queixando, no queixume... (tudo bem) começa a se queixar, e tome demanda, e tome reclamação; e tem uns mais obcecados com a reclamação e tem aqueles que só falam do outro. Ah, porque o outro fez isso, fez aquilo, que mamãe, que papai, que titio, que titia, que maninho, que maninha, que mané! Para com isso! O lance é dar um relax, associar livremente e as tuas palavras, elas precisam ter força em VOCÊ, para VOCÊ!


Estou falando de narcisismo! Quem foi que te disse que narcisismo é ruim? Quem foi que te disse que não podemos ser minimamente egoístas (essa palavra é horrorosa, mas é para vocês entenderem)? Se a gente não for minimamente guardião do nosso ponto a gente se desfaz no ponto do outro!...


Televisão, jornal, propaganda, empresa, farmácia, o que vocês quiserem, eles têm a função exclusiva de ficar sequestrando a tua energia e continuar levando vocês embora, e para onde eles querem. Mas você tem a chance ⸺ e é isso o que eu digo sobre FABRICAÇÃO DE REALIDADE ⸺, você tem a chance de ser um pouco mais senhor do seu momento, da sua realidade.


Você não precisa ser poeta, artista, bonita, midiática, rica, não tem nada disso. Não tem nada que te garanta, digamos, a felicidade, sei lá, ou a estabilidade. O que tem é um teretetê seu com seu inconsciente que, em parte, é seu e, em parte, do outro. Tem uma negociação que tem que ser continuada ⸺ é o que fazemos em análise.


É o seguinte: onde você vai passar a noite do 24? Pergunta para você. Você vai passar onde você quer, Feliz!? Feliz!?... Ou “de boa” ou você vai passar a noite do 24 no estilo “é!?... Não queria, mas vim”?... Ou vai passar a noite do 24 solo, dormindo, comendo e fazendo o que você gosta?... Cada um gosta de uma coisa.


Então, a pergunta é: onde ‘tu vai passar’ a noite do teu 24?

Onde estiver, estará de boa? A fim de estar?

Vais passar ou ‘tu’ vais ficar?


O que ‘tu precisa’ para passar “de boa”? É presente de natal que não vai ter? Se é presente de natal que você não ganhou, vou te dar um agora. Pega uma banana, ou uma maçã, ou limão e transa com a fruta! O que é transar com a fruta? É você entrar na fruta e a fruta entrar em você. Se você está sem dinheiro para a tua ceia de natal, começa tua dieta por aí, faz o teu lance. Não gosta de banana? Que tal um tomate? Que tal um jejum intermitente? Não sei se vai ser bom para você, não vou ficar dando muita ideia.


Mas e o banal? Que tal você fazer uma ceia, onde você vai cear as tuas ideias? Ou que tal qualquer coisa que te agrade? Para você não ficar na mental de que “ah! eu tô tão melancólico... porque que não tenho aquilo que eu sempre quis”...


Meu querido, minha querida, se você não tem, NÃO TEM. NÃO TEM!

Se você não tem isso, mas tem aquele outro, é esse o lance. É a báscula. É a variação.

“Ah! mas eu gostaria...”. Se dá para ir atrás do que você gostaria, então vai. VAI VER O QUE É POSSÍVEL!


A gente tem sempre a chance de CONSTRUIR A REALIDADE.


E para construir a realidade não tem nada necessário a priori. Isso mesmo. NÃO PRECISA de dinheiro, não precisa que o outro queira e te aceite e te ame. Não precisa ser o mais amado ou amada.


Precisa estar no gosto daquilo que você está indo fazer. VOCÊ PRECISA QUERER BUSCAR ALGUMA COISA.


E por que é feliz banal? Porque as coisas simples, vamos fazê-las bem, bem “de boas”...

Às vezes a gente percebe, em uma análise, que a análise é muito mais a arte de cortar do que a de acrescentar.


Freud já falava isso, lá atrás... A análise não é pela via do colocar, é por via de tirar, extrair. Vemos? vamos tirar.


E tira gordura daqui e dali!... E tira penduricalho daqui e dali!... E tira excesso daqui e dali!... Deixa a coisa perecer, depois você coloca um penduricalho novo, dá um jeitinho. Isso é coisa do artista!


Eu não sei o caminho, porque, se eu soubesse, já estava encaminhado.

O Tao te Ching, do Lao Tzu, tem mais de 3.000 anos, e diz: eu não sei o caminho, mas eu caminho mesmo assim.


Essas dimensões, onde você consegue se colocar, através do qual você consegue trilhar alguma coisa que te dê gosto. Você pode gostar do que você quiser.


E, para terminar, eu quero dizer o seguinte: vocês não precisam gostar do que eu falo, nem gostar de mim, vocês só precisam ⸺ se querem alguma coisa de interessante do que eu tenho a dizer ⸺ é de um pouquinho de PAZ, para poderem fazer aquilo que mais lhes APRAZ!


PAZ porque te APRAZ.


Apraz para ter paz. Paz para paz, rapaz, rapariga, rapaz, tenha paz, busque a paz!


Foi o meu recado!


Espero que vocês curtam bem o que vem por aí, que vocês fiquem “de boas” e que pensem e façam aquilo que faz vocês ficarem “de boas”. Tanto melhor se tiver uma certa fluidez criativa.


Um beijo no coração de vocês!


Carlos Mario Alvarez

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