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COMPULSÃO NÃO É DESEJO, DESEJO NÃO É COMPULSÃO

Atualizado: 2 de mai. de 2023

Proponham-se a seguinte ideia provisoríssima: a inscrição da compulsão enquanto desejo. Mas o que caracteriza a compulsão é que ela é um processo absolutamente estreito ― digamos assim: autossuficiente e fechado. A compulsão, ela fica numa porta giratória em que nada sai “pra fora”. A pessoa que está vivendo um processo compulsivo, ela não só tem muito pouca capacidade de parar isso naquele momento, como ela tem pouca compreensão do que está se processando naquele momento. Ela percebe, mas ela não entende muito bem o que é aquilo, porque aquilo está cifrado, digamos assim. E ao mesmo tempo que é estranho, traz uma certa recompensa. Esse estranho sentimento/objeto, que insiste nele, que não faz nexo, não faz desdobramentos, fica encapsulado, encriptado, produzindo uma energia muito forte, concentrada, com um tipo de relação de objeto muito particular e específico em que esse objeto, é um objeto utilizado para consumo e ejeção – ou para consumo e rápido descarte. Mas entendam que esse objeto que visa a compulsão não é movido pelo desejo.


Compulsão não é desejo.

A compulsão, ela pode ser uma moção carregada de intenção, e ela é movimento, ela é intencional. Não que a pessoa queira, mas a intenção é o movimento, e por isso é a própria pulsão. Imagine que ela fosse se instalar como um corpo estranho, quase que como um invasor. Uma pessoa que está vivendo uma compulsão, ela fez um circuito, o qual a psicanálise chama de gozo, e que traz riscos para ela, traz sofrimento, traz instabilidade; ela pouco sabe daquilo, ela pouco controla aquilo, ela pouco o domina. Portanto, não é desejo. Porque o desejo, ele começa a ter a especificidade de ser traduzido em fantasia; e uma fantasia é capaz de ser narrada, é capaz de ser desdobrada. Então, vejam que o que caracteriza a compulsão é que ela está enquistada no sistema como um corpo estranho, trazendo para ela muito investimento, roubando de outros lugares, tornando aquela pessoa ilhada, e de maneira tal que ela fica obcecada compulsiva, dominada, fascinada. E o que poderia ser diferente para ela seria ela poder ter mais afirmatividade em relação àquilo que acontece com ela. Aquilo que bole, aquilo que mexe por dentro, que ela obedece como ordem, pois ela é tomada por uma força outra dentro dela que não ela mesma.


Na psicanálise, por outro lado, o desejo é libertador. O desejo consegue estilizar a vida de uma pessoa. Faz com que a pessoa assine o seu estilo. Qual a sua assinatura? Você escreve. Troca. Compra. Mostra. Negocia. Muda. Aprende. Erra. Conserta. Pede desculpas. Segue em frente. Não pede desculpas. Renuncia. Mas segue em frente. Liberada pelo desejo, que se modifica, se multiplica e assim a conduz. A compulsão encarcera no círculo vicioso da culpa hipnótica inconspícua. Compulsão e desejo são, então, como força centrífuga e centrípeta...


Carlos Mario Alvarez


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