Quando se pensa no quanto somos atordoados pelo que dizem sobre nós, para nós e sobre como somos, quem somos ou deveríamos ser; quando vemos a falta de bom senso do outro, seja ele um familiar ou uma sociedade que te massacra pelo preconceito te rotulando pejorativamente de, por exemplo, a solteirona, o bichinha, o feio da família; quando se é rodeado por tantas conformações mais destrutivas que instituidoras, a gente pensa em como (se possível) se desfazer de todas elas. Como eu conseguiria me livra dessa voz, a voz do outro?
Não tem como se livrar da voz do outro, mas tem como se livrar de algumas vozes. Pensa o seguinte: trepar no outro. Sabe quando uma pessoa trepa na outra para ver o que tem do outro lado do muro? Tem gente que é assim, precisa trepar e tripudiar no outro. Esse tipo de (ab)uso é que eu coloco em questão nessa hora. Por que você vai deixar uma pessoa te explorar, te apelidar, te manipular? Em nome de quê? Do amor incondicional? Do respeito à mãe e ao pai? O que as pessoas não estão preparadas para perceber, por vício de educação, é que o outro pode fazer muito bem, mas também pode fazer muito mal. E você é responsável por isso, numa certa medida, é responsável por aquilo que você causa em você mesmo, por aquilo que você causa e deixa causar a si. Eu brinco com você porque está sendo bom pra gente, mas se não for, eu caio fora. E se não tiver nem para início de brincadeira, não vai ter insistência. Você não insiste onde o outro sofre, essa é a posição da psicanálise. Você insiste com o outro para que ele rearranje o seu sofrimento. Quando você se junta a uma patota para fazer bullying, isso pra mim está dentro de uma empatia coletiva que é usada, para, deliberadamente, excluir e massacrar o outro - o que se encontra já no espectro da violência. No meu entendimento, a clínica psicanalítica tenta te desvencilhar disso. Livrar-se não necessariamente da voz (o que em algumas situações é impossível), mas pelo menos dos efeitos que elas podem te causar.
Carlos Mario Alvarez
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