Embora a psicanálise não preveja nenhum tipo de teoria específica sobre amizade e nem a prática analítica tenha que se passar no nível da amizade, é a questão da confiança que é pensada dentro da relação transferencial que interessa.

Não há amizade sem confiança. Sem possibilidade de entrega mútua. Sem uma possibilidade real de respeito e tolerância com o que quer que seja entre duas partes.
A amizade é mantida na medida em que o desejo de conviver e de trocar se renova.
Nenhuma amizade é necessariamente para sempre ou está necessariamente garantida.
Elas balançam. Elas se transformam. Elas ficam ultrapassadas. Elas perdem o prazo de validade.
A experiência transferencial, por exemplo, vai ser marcada pela confiança e pela capacidade que alguém tem de se interessar por escutar aquilo que alguém tem para dizer. Seja lá o que for, mas no nível deste respeito. No nível desta aceitação e da não afetação subjetiva por parte do analista, do que quer que venha do analisando.
É bem possível que isto permita, inclusive, a eclosão de ódios, de moções de raiva, de uma certa revolta, de uma certa incompreensão, mas mesmo assim, se há confiança, essa confiança restaura e restitui o caminhar, o processo e garante o seguimento da análise.
Então há algo de interessante no processo analítico que não é necessariamente uma amizade, mas faz parte da noção fundamental que é de confiança, de entrega mútua entre as pessoas.
Essa confiança é aquilo que, por exemplo, Winnicott chamava de holding; de uma posição em que a mãe permite à criança acesso ao mundo, porque ela faz um holding, um acolhimento. Esse holding, é uma forma de experimentação de amizade, de entrega.
Ferenczi também já falava do sentir com. É preciso que o analista acompanhe, sinta com, faça algum tipo de amparo, para que o analisando caminhe.
Isso é a amizade possível dentro da experiência analítica.
Carlos Mario Alvarez
Professor, Carlos Mario, excelentes reflexões! MUITO obrigada!
Estou aqui, "sendo"... inflamando... acolhendo... experimentando...