O que caracteriza a neurose é uma pessoa estar presa, fechada, encarcerada num ciclo que restringe a vida dela e a capacidade que ela tem de se abrir a outras possibilidades. O neurótico não pode passar de um determinado ponto porque, se ele passar dali: ou ele morre, ou o pai pune ou a mãe se decepciona. O neurótico obedece, ama e odeia as figuras parentais. Muitas vezes, no entanto, essa ambivalência é vivida de modo extremamente angustiante.
No caso da neurose obsessiva há um permanente adiamento do desejo, porque este sujeito está, no limite, preocupado em não morrer. Ele acha que se fizer muito esforço, nada de mal acontecerá. E então, surgem os rituais todos que ele aprendeu: vou bater três vezes no branco e três vezes no preto, vou tirar essa pedra do caminho e nada de terrível acontecerá. Nas obsessões, recorrentemente a falta de simetria é morte. Se ele não verificar três vezes que o bebê está respirando, ou dez vezes checar se de fato trancou a porta, ou não lavar a mão quinze vezes, o neurótico obsessivo acha que está verdadeiramente em risco. O que ele está fazendo é criar uma narrativa inconsciente para pegar o passarinho e botar na gaiola. Quase como se dissesse: passarinho, não voa que a vida é perigosa, fica aqui em casa e canta pra mim.
A neurose é esse tipo de pensamento que invade fazendo com que não se tenha tempo para sonhar, mas que despende enormes quantidades de libido em obedecer às insanas modalidades de aprisionamento, de punição, de vigia do nosso interno supereu; disso que, na gente, maltrata a gente; disso que, na gente, aliena a gente; disso que, na gente, confunde a gente para achar que a certeza é por ali. E o neurótico obsessivo é o insatisfeito que nunca consegue soltar um pouquinho o nó da gravata, relaxar e dizer: cara, eu não posso isso, não posso aquilo, mas alguma coisa eu vou conseguir.
Equipe Psicanálise Descolada
Comments