Eu acho que a expressão “ser feliz” é uma falcatrua, desde já, uma falaciazinha que nada acrescenta. E a gente devia sempre tentar ponderar o que seria exatamente isso de “ser feliz”... Porém, se a gente já saiu um pouquinho dessa, eu vou contar uma coisa: a língua reside no outro, a linguagem é produzida pelo Outro. Você não veio falando português, você instalou esse software no processo de vir ao mundo, porque família, papai, mamãe, titia te fizeram falar e aprender a Última Flor do Lácio. E nesse ponto, o que eu posso te dizer é que quando você aprende outra língua, inglês, francês, grego, você já sofreu um processo de subversão incrível e você já está surfando em outras águas.
Mas quando você sonha, a língua é ainda a língua do outro, só que você faz aliterações, associações alucinatórias. E o que é alucinação senão a invenção da língua? As palavras... (O Lacan dizia que você só vai estar diante da psicose quando estiver diante do neologismo, que é a criação das palavras). Agora, a criação de palavras é o que liberta; se eu consigo reutilizar as palavras, descartar, colocar em uso, inventar, fazer um bom uso (como sendo um poeta), então me liberto porque aquela língua não é daquele Outro. Então, se eu leio o jornal todos os dias, quer queira quer não, eu estou sendo formado pelo Outro. Eu posso até ser crítico, mas eu estou vendido para aquela linguagem (e ainda estou, pagando, porque preciso liberar aquele dinheiro para poder ter acesso)
O inconsciente é o discurso do Outro. Confesso que a gente paralisa quando descobre isso. Sim, e eu confesso que estou tentando entender isso desde que ouvi isso pela primeira vez. A gente vai fazendo associações diversas porque esse é um axioma que a gente não tem como matar, assim, de uma vez. O que eu posso te dizer é o seguinte: o inconsciente é o discurso do Outro, a nossa produção desejante não está na gente, exclusivamente, ela passa pelo outro e transfere, ela volta e transfere, a gente não sabe direito quem é a gente e quem é o Outro, o que é objeto e o que é o sujeito. Essa confusão de línguas é o inconsciente, ele é essa profusão de produções. E a sua língua são todas as línguas que lamberam, ou não, seu ego, sabendo e sem você saber, goste ou não goste delas. Mas elas saborearam você.
Carlos Mario Alvarez
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