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A FAMÍLIA HISTERINA

Atualizado: 19 de mar. de 2022

E MAIS UMA VEZ ME PERGUNTAM se a histeria masculina tem a ver com o desejo de agradar à mãe, ao pai ou de suprir os desejos deles. Se o homem procura menos uma solução para a histeria do que a mulher. Sabemos que cada caso é singular, que não dá para fazer generalizações. E precisamos entender que a histeria opera uma “dessexualização” por conta da proximidade com o real, ou por conta do horror de ter que sexualizar o pai ou mãe. Daí talvez a gente entenda que, culturalmente, para o homem é mais fácil, é mais simples se identificar com o pai, ocupar esse lugar do pai. Porque, tanto o homem quanto as mulheres tiveram que abandonar a mãe como objeto total, como objeto continente, como objeto de amparo e de desejo inicial.

Essa é a simbiose: mãe. Isso vai ter que ser substituído. E freudianamente falando, é uma substituição da primeira satisfação para entrada no Édipo. Essa entrada no Édipo... Freud vai tentar obter uma solução em que mãe e pai ganham um lugar simbólico. (É bastante criticado o Édipo freudiano, mas também foi bastante usado). Você imagine um homem que não consegue despertar afeto pela mulher ou que não consegue desejar essa mulher porque ela não merece a baixaria do sexo. Se ele transar com essa mulher, ele vai estar transando com algo sagrado, afinal, ela é a mãe dos filhos dele. São processos de “dessexualização” histéricos. Ou, então, pessoas que se desinteressam pela cena sexual... Isso é uma condição histérica.

Há homens que, por isso, acabam reencontrando seu desejo sexual fora do casamento, por verem a mãe dos filhos como sagrada... Mas principalmente pelo fato de que a convivência familiar tem um alto grau incestuoso. Como o famoso caso de Ana O., que foi invadida pelo sentimento de incesto. A família, a convivência familiar, é de natureza incestuosa. Tanto assim que há rituais de expulsão de casa. Em que o marido só pode se relacionar com a mulher como se fosse a mãe... Então, aí, só vai poder se relacionar “sexualmente” com a prostituta.

O próprio Freud falou sobre isso... Todas essas montagens são montagens histéricas, são montagens de máscaras. Por exemplo, a mulher que faz o homem crer que ele é maravilhoso, mas ela faz isso porque ela tem outros interesses, ou por que ela não tem saco para aquele cara e ela tem que aturar ele. Isso é muito comum de você escutar: olha, eu transo com ele por obrigação. Até por que isso, estatutariamente, já foi lei obrigar a mulher a transar (as obrigações conjugais). Tudo isso caiu por terra. Nós vivemos uma época em que as pessoas podem “dessexualizar”, podem “histericizar”, sem que isso seja um sintoma de dor. A gente pode viver possibilidades. Imaginem as pessoas que ficam presas em situações românticas? Elas também estão “histericizando”, porque estão deixando de experimentar o real para esperar por aquilo que pode vir a ser ideal.

O analista não pode ficar colocando a mão, arbitrando causas e efeitos; ao contrário, ele tem que abrir para que as coisas apareçam e se organizem no discurso, porque não tem isso de causa e efeito. Existem, sim, causas, mas a gente está sempre em dissimulações que são histéricas. O semblante da “Família Doriana”... Isso é histérico, é uma marcação de teatro que barra todo mal-estar, mas vende uma forma. E os outros vão lá e compram. É aquela famosa expressão: propaganda enganosa. É o outdoor do histérico por excelência.

Por Carlos Mario Alvarez


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