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PACIENTE, Ó! PACIENTE MEU

O Estádio do Espelho diz respeito ao momento em que você tenta se olhar através do espelho e você não chega nunca através dele, você não chega a você, você não está lá, mas uma imagem está. Uma imagem que você supõe que seja a sua. Mas ela não é sua. Se fosse sua não estaria lá como imagem perdida, acenando por algo. Você está refletido lá? Está mesmo? Ipsis litteris? Não. Espelho, Espelho meu, diga se há alguém além de “eu”. Tem sim. Tu não estás sozinho no mundo. Tu não estás aqui por efeito do nada. Tem alguém (alguéns)? E quem é? Tu vais querer saber, vai ferir o teu narcisismo? Tem um bocado de gente mais interessante, mais bonita!... Do que eu? É. Mas espelho, afinal de contas, tu não és fiel a mim? Tu não és eu e eu sou tu? Não. Não somos a mesma coisa. Eu falo uma outra língua. Queres falar como eu? Não vais conseguir. Espelho, Espelho meu diga se há no reino alguém mais bonito do que?... Tem: Branca de Neve! Menina bonitinha, que agora cresceu. Ela é mais bonita do que você. Estás escutando? Estás ficando velha, estás ficando chata, estás ficando “bruaca”, feia!… Tem mulheres mais bonitas que tu, e Branca de Neve o é. O que vais fazer? Ah… o narcisismo da gente quando não suporta a quebra da simetria, quer logo destruir o outro. Aí, falta análise, né, gente!?… Porque a análise diz: escuta!… Não é você. Mas o que tem pra ti? É muito pobre invadir o outro, maltratar o outro por conta de inveja. É muito piegas. É muito baixo. Mas o humano tem isso. O humano é capaz de cada coisa!?…

A gente tem muita coisa que não precisa estar nessa dimensão especular. Por que é que uma moça tem que se comparar com a outra? É vício. Vício do espelho. O espelho não fala a verdade, mas ela achou que falava. O espelho disse outra coisa, mas ela ouviu aquilo. Escuta: por que é que o analista não é o espelho? Faço a pergunta a vocês. Por que é que o analista não é o espelho do paciente? Porque ele não tem resposta para o narcisismo do paciente, ele não pode ter. Ele não pode responder aquilo que o paciente quer (é isso que o Lacan vai começar a colocar). Trata-se de fazer circular o desejo em análise. Então, não cabe ao analista passar a mão na cabeça do analisando e dizer que ele é bonitinho, maravilhoso. Dizer que não tem mais ninguém bonito. Não, ao contrário. Fica no lugar de se calar. Fica lá. Se colar, colou. E é nisso que se passa a análise. O analista é o antiespelho, pois ele, antes de mais nada, ele é o analista dos espelhos, mais do que do paciente, propriamente. O paciente só acredita em imagens, e é sobre essas imagens que o analista vai trabalhar. E sobre cada reflexo imaginário em que o paciente julga se encontrar vai indagar o analista: é aí paciente, ó paciente meu, que você realmente é...

e está?...

Carlos Mario Alvarez


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