Há narcisismos em que as pessoas vão primar por um certo elitismo, um certo culto a determinadas questões grandiosas. Você vê isso com dinheiro, com propriedades, tudo que possa significar grandiosidade, poder. Vão se sentir grandes porque se isolaram. É muito comum você ver esse tipo de comportamento em certas personalidades narcísicas. Digamos que há um casal. Se tem um que está mais nessa área, o que ele (ou ela) faz? Corta sua conexão com outras pessoas e mantém o outro quase que em cárcere privado. Isso é pra que ninguém denuncie essa grandiosidade farsante. Você isola porque não pode suportar a sua não completude. O que faz uma personalidade narcisista numa relação? Dizem que ela não é capaz de entrega, de troca, portanto, não é capaz desse amor que é dar e receber. Mas, sim, ela se vale do outro para extrair desse outro a sua pulsação, a sua validade e parear como se fosse uma transfusão de corpos, de coração, de energia. Ele usa o outro de escudo para se proteger da sua angustia, ele manipula o outro, coloca-o numa espécie de hipnose (claro que ele tira vantagens: econômica, social, sexual – vai variando), tirando vantagens exploratórias.
É como a transa “Louva-a-deus”, mas repetida à exaustão. A louva-a-deus, quando está na cópula, ela começa um trabalho de torná-lo sua presa, hipnótica, e ela vai comendo partes do louva-deus macho. Ele está numa fissura orgástica e, portanto, não percebe, não toma consciência de que está sendo comido. Ele morre no êxtase. Talvez não seja tão ruim, mas é o fim de um louva-a-deus “transador”.
Se tomarmos esse exemplo dentro da cena humana, podemos dizer que alguns vão levar o parceiro à condição de exaustão. Aí, você vê os maus tratos. E a outra pessoa deixa. E há uma coisa muito interessante para quem está ali como “vítima”... Essa espécie de empatia pode levar a pessoa à total degeneração.
E como a personalidade narcisista não tem flexibilidade, não tem conversa, ela faz uma prática exploratória e começa a se valer de manipulações, de uma espécie de mentira, de mentiras e mais mentiras. Você vai construindo um discurso que vai substituindo aquilo que a pessoa falou, a ponto de ela não acreditar mais nela. E a transa corporal está rolando, existe grande gozo; mas, fora isso, não tem mais nada. E vocês vão ver casais de namorados que estão gozando e se matando concomitantemente.
Apenas, diferentemente do louva-a-deus, com quem a morte só acontece uma vez, com esses casais a morte se repete indefinida e quase eternamente, num circuito vicioso e hipnótico de degeneração em que a violência e a própria morte podem acabar por acontecer também.
Carlos Mario Alvarez
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