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Felizmente Insuficientes

Foto do escritor: Psicanalise DescoladaPsicanalise Descolada

A instabilidade emocional pode ser compreendida a partir de um conceito fundamental na psicanálise: a suficiência. Segundo Donald Winnicott, a experiência do cuidado materno deve ser suficientemente boa – nem excessiva, nem insuficiente –, permitindo que o bebê se constitua como sujeito.


Desde os primeiros anos de vida, aprendemos a lidar com a ausência, a frustração e a espera. O desenvolvimento psíquico ocorre nesse movimento entre proximidade e afastamento, na alternância entre ter e perder. Quando esse equilíbrio é comprometido – seja por um ambiente que protege demais ou que falha em oferecer suporte –, podem surgir dificuldades para sustentar vínculos, elaborar perdas e enfrentar mudanças ao longo da vida.


Felizmente Insuficientes

Se, na infância, a presença do outro é constante e sem falhas, a ausência pode ser vivida como um evento insuportável. Sem esse espaço para desejar, há o risco de uma fixação na presença absoluta do outro, impedindo a construção de recursos internos para lidar com separações e frustrações. Por outro lado, quando há falhas precoces e um suporte emocional instável, a experiência da falta pode ser vivida de maneira angustiante, levando a sentimentos de desamparo e insegurança.


Essa dinâmica é central no processo de constituição subjetiva. Freud, ao descrever o Fort-Da em Além do Princípio do Prazer, nos mostra como, desde a infância, a repetição da ausência e do reencontro ajuda a simbolizar a perda, estruturando o psiquismo para lidar com separações. Quando essa experiência não se estabelece de forma integrada, podem surgir dificuldades em sustentar relações, medo intenso do abandono e uma alternância entre necessidade de controle e angústia frente à perda.


Entre Presença e Ausência: Quando a Falta se Torna Intolerável


Ao longo da vida, todos lidamos com perdas, rupturas e incertezas. No entanto, para algumas pessoas, esses movimentos naturais tornam-se fonte de intensa angústia. A ausência do outro pode ser vivida como um abismo insuportável, e qualquer sinal de afastamento gera reações desproporcionais.


Essa dinâmica pode se expressar de diversas formas: em relações instáveis, marcadas por uma busca incessante por segurança, seguida de medo e rejeição; em uma constante oscilação entre idealização e desvalorização do outro; ou ainda na dificuldade em construir uma percepção coesa de si mesmo, vivendo entre extremos emocionais e identitários.


Em quadros como transtorno bipolar e transtorno de personalidade borderline, essa experiência se intensifica, tornando a vivência emocional mais extrema e desafiadora. O sujeito pode se perceber em estados emocionais contrastantes, sem um eixo interno que organize suas experiências. A tentativa de manter um vínculo seguro pode oscilar entre a necessidade de fusão e um medo intenso de perda, gerando crises que afetam profundamente a vida psíquica e relacional.


Essas manifestações não se restringem ao diagnóstico clínico. Elas impactam a forma como a pessoa se percebe e se relaciona com o mundo, exigindo um olhar cuidadoso para a complexidade do funcionamento psíquico e para os desafios que impõe ao sujeito e àqueles que convivem com ele.


Compreendendo a Instabilidade Emocional: Aula ao Vivo e Gratuita


Para aprofundar essa discussão e explorar como essas dinâmicas aparecem na vida psíquica, convidamos você para uma aula ao vivo e gratuita, no dia 16/03, às 20h30, no YouTube. O professor Carlos Mario Alvarez abordará como a psicanálise compreende esses fenômenos e de que forma podemos pensar as experiências emocionais que os acompanham.


A aula será conduzida de forma acessível, com exemplos do dia a dia, permitindo uma reflexão sobre como lidamos com a ausência, a frustração e a instabilidade nas relações, além de abordar os desafios clínicos desses quadros na escuta psicanalítica.


📌 Para ativar o lembrete e acompanhar ao vivo, clique aqui.


Nos encontramos em breve,

Equipe Psicanálise Descolada


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Referências Bibliográficas

  • Winnicott, D. W. (1971). O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago.

  • Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.


 
 
 

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