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DEU SÍSIFO, PEDE OUTRA PEDRA

Na Mitologia, Sísifo é o mais sagaz dos homens, talvez tivesse algo de brasileiro, meio gingante, meio capaz de ser circense. Sísifo aprontou, aprontou, aprontou, fez muita coisa e, quando morreu, Zeus falou: “tás lascado, vai ser punido na (e pela) eternidade”.


Zeus diz: você é malandro, né? Quis ser mais que os outros. Agora você vai fazer o seguinte: vai pegar essa pedra e colocar lá no alto da montanha e, quando você conseguir fazer ela parar lá, você estará salvo.


E Sísifo está até hoje fazendo isso.

Somos todos Sísifos porque, quando a gente acha que conseguiu, que entendeu o sentido, vai ter que fazer tudo de novo – e refazer o sentido. Nós temos que dar conta do impossível, do incognoscível, do impensável, além das coisas práticas e vicissitudes da vida mais ordinária, com seus revezes e ironias. Tem que dar conta, pagar a conta e fazer e refazer a conta daquilo que, a despeito do seu interesse, da sua potência, te derruba, te faz fracassar, te faz falhar. De novo e pra sempre.


Zeus vai impetrar a castração de Sísifo. A castração na base da pedrada. Essa é a vida. Porque tem uma hora que Sísifo deve acreditar que deu, que ia dar e não deu. Este é um bom mito para falar da vida e de porque ela continua. O real da psicanálise é a incidência cíclica da dissolução do possível de ser entendido, de ser resolvido. Alguma coisa que não possibilita, que não permite que castra continuamente. Mas não impede que a vida continue.


Sísifo-nós temos que ser fortes, e ao mesmo tempo temos olhos olhando para nós e a todo tempo (esses Zeus que zelam por nosso castigos). Mas nós não podemos renunciar. A gente não renuncia ao nosso destino (em algum momento Sísifo devia achar que podia). E a fé permite isso. Nós somos animados por essa fé. A fé não é cega: a fé é a vida.


Carlos Mario Alvarez

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