O BORDERLINE É ATONAL
A volatilidade do indivíduo com características borderline não é serena; ela evoca nuances de intensidade emocional. Essa personalidade oscila constantemente de humor, apresentando dimensões que, por sua natureza assustadora, tendem a transbordar, lembrando-se a uma placa quente prestes a aquecer. Recordo-me de uma metáfora que costumava usar ao trabalhar clinicamente com tal indivíduo: como desligar um aparelho da tomada quando a temperatura se eleva com uma palavra simples, muitas vezes direcionada a mim.

Os surtos de uma pessoa com traços borderline manifestam-se em excessos, transbordando em emoções intensas. Ela experimenta um ciclo que começa com uma sensação de maus-tratos, seguida por excessos, sofrimento e uma exigência incessante em relação aos outros, buscando reparo. Este excesso não se atenua facilmente, não permitindo que a pessoa se distancie para uma avaliação mais equilibrada. O princípio de realidade, como nomeado por Freud, torna-se desafiador para o borderline, dificultando negociações e harmonizações dentro de configurações de se perceber.
O dilema do borderline reside na dificuldade de encontrar uma melodia, uma harmonia que se encaixe em padrões de serem ouvidos. O que ele ouve é estridente, desprovido de cadência e, por vezes, tenebroso. Embora a vida contenha essas dissonâncias, para o borderline, a falta de ficção e fantasia que as coisas estão bem podem ser avassaladoras. A confiança no outro é um desafio, especialmente quando se descobre que a confiabilidade é questionável. A intensidade do borderline pode ser avassaladora, tanto para os outros quanto para si mesmo, contudo, o analista, quando sensível e receptivo, é capaz de suportar essas experiências.
É crucial compreender que o borderline carece de harmonia, assemelhando-se a uma música atonal. Ao contrário do neurótico, que busca repetidamente a mesma chave, a mesma clave, e procura harmonias familiares, o borderline desafia essas estruturas, fugindo da pauta como se a rasgasse. Em certas situações, palavras aparentemente inofensivas podem desencadear uma ocorrência de ódio inesperado, às vezes chegando a manifestações de maltrato.
Ao lidar com o borderline, estamos imersos em dimensões de alta tensão e expressões de violência, uma linguagem que essa pessoa aprendeu a utilizar. A singularidade do indivíduo borderline é marcada por uma constante sensação de perigo iminente e um desconforto persistente de desintegração. Este é um cenário em que a psicanálise pode desempenhar um papel fundamental, embora, por ora, devamos nos concentrar no reconhecimento de que o borderline enfrenta uma ameaça constante e viva em um estado contínuo de integração e desintegração. Ouça as composições de Schoenberg, Webern, Varèse e Berg, explore a música atonal, e talvez compreenda de maneira subjetiva o que estou descrevendo.
Equipe Psicanálise Descolada
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