Quando a gente consegue um estado de livre fluir, um certo quantum de deixar as coisas se mexerem, a gente se reconecta com os movimentos, esse sentido de movimento contínuo, natural, rítmico, espiritualmente corporal, ele aparece. Não sou eu que quero, propriamente, porque eu já desisti um pouco de dançar. Eu prefiro que essa coisa dance em mim. Sabe aquela coisa de entidade? É mais ou menos isso. Entenda as entidades como movimentações disso que replica em nós, e rebatem. Por exemplo: na análise a gente rouba aquela pessoa roubada. Então, se eu consigo brincar é porque eu consigo ainda ser criança mesmo tendo vivido tanto e tantos anos.
Mas não é qualquer criança, é a criança que está aberta para olhar o mundo e se espantar com ele. Se espantar no sentido de acariciar. Só que a gente também não pode ficar nisso o tempo todo porque o mundo também pode ser muito persecutório, invasivo. É essa malemolência, esse gingado que a gente tem que aprender. E saber que às vezes a gente acerta e às vezes a gente erra. Saber que, muitas vezes, é preciso refazer os caminhos. É um eterno processo.
Vou falar uma coisa na minha liberdade poética: devir a pulsão, pelo menos a movimentação... você vai, encontra e volta; têm brinquedos que são assim. A dança faz isso. Isso é o princípio do baile. Quando você está bailando, eu diria que você consegue, e você vai compondo seu arsenal criativo com o teu paciente, daquilo que ele precisa estar falando. A dança em par não tem centro, centro de palco, ela pode até ter um centro de gravidade, que varia de posição em função da movimentação dos seus elementos. Caminha, baila, flutua, em função menos das forças do que das vontades, menos dos objetivos do que dos desejos, mais dos sonhos do que das verdades, mas sempre dança conforme sua própria música...
Carlos Mario Alvarez
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