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COMPULSÃO E CASTRAÇÃO (uma breve introdução)

Foto do escritor: Psicanalise DescoladaPsicanalise Descolada

O que a compulsão tem a ver com a castração? 

Solução. 

Vamos do início: a compulsão é uma insistência radical num objeto, num meio, num caminho; ela fica. E tudo que insiste o tempo todo num mesmo lugar gera ulcerações. 

Compulsao e castração

Quando alguém quer vencer uma adicção é necessário  entender/descobrir/analisar o que sustenta essa relação. Porque a adicção, em si, é uma manifestação mais explícita da exclusividade de um objeto. Por exemplo: pessoas que passam o dia inteiro bebendo, que fumam um cigarro atrás do outro, que comem sem muito critério, que se masturbam compulsivamente ou que não conseguem parar de jogar. Todas essas situações de compulsão são caminhos que alguém aprendeu e que lhe dão algum tipo de retorno. O sujeito compulsivo fica fidelizado naquilo e disso extrai uma coisa que não é prazer. O prazer seria de outra ordem. Por quê? Porque o caráter desse vínculo é marcadamente deletério. 

Imagine um sol batendo na sua cabeça, o dia inteiro, sem nenhuma proteção. O efeito dessa incidência exaustiva inevitavelmente desgasta. Onde tem excesso, tem estresse e esgotamento. As pessoas que estão nessa situação extraem gozo, não prazer. É o circuito da compulsão à repetição onde o que se extrai é uma espécie muito curta de escoamento da angústia. 


O processo de angústia sobe, sobe, sobe. A pessoa faz, então, um enleio com o objeto: ela come, come, come, ou compra, compra, compra. E isso gera até uma certa saciedade. Mas a pessoa não vai para frente, ela não digere aquilo. Ela precisa voltar naquele mesmo lugar para fazer de novo. E quando a pessoa fica nisso, ela está fixada, o desejo não está sendo extraído. Então, ela está extraindo gozo deletério que, no decorrer do tempo, cobra um preço muito alto. Além disso, o resultado do retorno é somente mais ansiedade. 


O que a psicanálise pode propor? Ela pode propor a análise da posição subjetiva. Geralmente as pessoas que estão nesse ciclo não conseguem admitir, reconhecer, avaliar, não conseguem olhar por fora. Ou seja, quem está numa compulsão, nesse processo de estresse contínuo, nesse ciclo fechado, do ato pelo vício, está num processo de exclusividade. E isso tem uma adesividade enorme, a libido cola ali e não quer sair. Por que a castração  é importante? Porque ela é um elemento que desloca o circuito da compulsão, ela diz: não, vamos quebrar isso aqui. Porque isso não é tão bom, isso não é tanta coisa assim. 


Mas estas pessoas se veem tão mergulhadas nesse tipo de relação que não conseguem recursos internos para se livrarem daquilo. Aí que a psicanálise entra para destruir e desvincular aquele laço. Mas ela não faz isso pela via da força, do convencimento. Ela faz isso tentando, pouco a pouco, remeter a pessoa à sua condição de sujeito desejante de uma condição desejante de vida. E isso se faz simultaneamente ao treino da castração daquele gozo. Promovendo uma situação analítica que permita que o paciente perceba que não há extração de desejo nesta repetição. O caminho é castrar o gozo para construir o desejo. Aos poucos. Sempre aos poucos. 


Equipe Psicanálise Descolada


 
 
 

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